Crónica de Alice Vieira | Feliz dia da mãe

Alice Vieira

 

Feliz dia da mãe
Por Alice Vieira

 

Ao que parece o Dia da Mãe é agora por estes dias. Pelo menos há anúncios que nunca se cansam de o repetir para ver se conseguem impingir uma pulseira de oiro e pedras preciosas pela qual só temos de pagar 10  Euros por mês—só não diz é durante quantos meses…

Adiante.

Mas para mim, o Dia da Mãe foi, é, e há-de ser sempre a 8 de Dezembro

Não quero cá saber das decisões europeias nestes assuntos. Agora nunca tem dia certo, porque parece que é o 1.º domingo de Maio, por isso este ano calha no dia 7  de Maio. Quer dizer, também posso festejar nesse dia, que festarolas é cá comigo—mas festejo por outro qualquer motivo, olhem, por exemplo, porque é dia de Sta. Flávia Domitília Não faço ideia do que terá feito esta santa mas de certeza fez coisas muito boas e sofridas para ser santa.

Mas voltemos ao Dia da Mãe. Claro que o festejo, mas em Dezembro e à minha maneira até porque nunca é demais recordar que o 25 de Abril libertou-nos daquela coisa horrível que a Mocidade Portuguesa nos impunha nos liceus: na aula de Lavores Femininos (lindo nome!!) passávamos todo o primeiro período a fazer roupa de bebé para depois ser entregue às mães pobrezinhas, coitadinhas, a quem davam uma senha e elas iam esperando numa fila a sua vez de receber pelas nossas mãos de meninas riquinhas, o que lhes estava destinado. E nas aulas as nossas professoras repetiam muitas vezes “o pano tem de ser muito forte que é para pobrezinhos e por isso tem de durar muito”.

E depois num grande pavilhão do liceu fazia-se a “Exposição dos Berços “ para as nossas famílias irem ver como as suas meninas eram prendadas. Claro que a maior parte delas já conhecia tudo porque na esmagadora maioria dos casos (eu incluída ) eram as nossas famílias que costuravam as coisas e a gente só as entregava. E era horrível ouvirmos as mulheres a quem dávamos as coisas dizerem “e muito obrigada à menina, coitadinha,  que se deve ter esforçado tanto a costurar para nos dar isto”.

Mas pronto, tudo isso acabou e agora o Dia da Mãe é para os nossos filhos nos beijocarem, para irmos almoçar ou jantar fora e bebermos uma taça de champanhe à nossa saúde. E é sempre o que eu faço no dia 8 de Dezembro e agora em Maio.

Já ando pra aqui a pensar para que restaurante vamos—eu, filhos e os netos que estão em Portugal — porque o que vive em Chicago festeja no dia 10 de Maio, e a que vive em Inglaterra já festejou no dia19 de Março — e todos os que se quiserem associar ao grupo

Já agora espero que não se esqueçam de que haverá outra festa no dia 8 de Dezembro…

 

Alice Vieira


Alice Vieira
Trabalhou no “Diário de Lisboa”, no“Diário Popular” e “Diário de Notícias”, na revista “Activa” e no “Jornal de Notícias”.
Actualmente colabora com a revista “Audácia”, e com o “Jornal de Mafra”.
Publica também poesia e é considerada uma das mais importantes escritoras portuguesas de literatura infanto-juvenil.

Pode ler (aqui) as restantes crónicas de Alice Vieira


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